O Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT), da Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia iniciou suas atividades em 09 de março de 2007, com a aula magna inaugural do curso, intitulada “A Transposição do Rio São Francisco”, proferida por D. Luiz Flávio Cappio, Bispo de Barra, município do Estado da Bahia. Este foi um momento simbólico importante que demarcou a proposição e compromisso do PPGSAT com a dimensão social da saúde na sua relação com o ambiente. Este ponto de vista tem orientado, desde então, a condução de projetos de investigação centrados na triangulação temática saúde, ambiente e trabalho: seus desafios, abrangência e potencialidades para a produção de conhecimento engajada com as mudanças necessárias em nossa sociedade. A proposta do PPGSAT é resultado de uma articulação de docentes e pesquisadores afinados com o diagnóstico e gestão de problemas de Saúde Ambiental e de Saúde do Trabalhador. Este grupo tem focalizado objetos de estudo que têm em comum a interface entre saúde, ambiente e trabalho, recorrendo a abordagens complementares, de caráter multiprofissional e interdisciplinar. A matriz teórica e política da Saúde Coletiva e que dão suporte a esta construção. São tratados temas que relacionam dimensões local, regional, nacional e internacional e compreendem, entre outros: a gestão dos recursos ambientais e o impacto sobre os ecossistemas, a poluição ambiental e seus múltiplos efeitos, a precarização do ambiente e das relações de trabalho, da saúde dos trabalhadores e da população geral, os determinantes sociais da saúde, a saúde global, as políticas públicas, assim como os temas emergentes como a reabilitação de trabalhadores e a produção de tecnologia ambiental e de promoção da saúde.
O PPGSAT utiliza-se de ferramentas conceituais e metodológicas voltadas para a construção de alternativas de soluções e para a implementação de ações sobre problemas ambientais e em saúde do trabalhador a curto, a médio e a longo prazos. Considera-se essencial que essas práticas técnicas e científicas se estruturem com base em reflexões sobre os modelos de desenvolvimento, os mecanismos de gestão dos problemas, as políticas públicas, o arcabouço jurídico-institucional existente, os processos decisórios e as formas como as populações e grupos ocupacionais percebem os riscos e se organizam para enfrentá-los.
Ressaltam-se experiências de caráter multidisciplinar que contribuíram para a criação do PPGSAT, que envolveram atuais docentes do Programa: Projeto Estudos Ecológicos do Recôncavo (1976), que agregava profissionais das áreas de Química Analítica, Saúde Coletiva e Biologia; Núcleo Interdisciplinar do Meio Ambiente (NIMA), vinculado à UFBA (1989), que ampliou seu escopo com a participação de pesquisadores das áreas de Engenharia Sanitária, Geofísica, Arquitetura e Administração; Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador (órgão da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia – CESAT/SESAB), fundamental nas ações de diagnóstico e vigilância dos agravos; ações do Ministério do Trabalho; ações de Sindicatos de Trabalhadores (Químicos, Petroquímicos, Petroleiros, de Água e Esgoto, de Professores, de Telecomunicações). Destacaram-se os trabalhos relacionados às doenças hepáticas em trabalhadores de indústrias petroquímicas, à vigilância do câncer ocupacional, às ações relacionadas ao diagnóstico e prevenção da silicose decorrente da exposição em empresa mineradora de ouro, aos agravos relacionados com a exposição ocupacional e ambiental ao chumbo em uma fundição primária, às lesões por esforços repetitivos em diversos processos de trabalho (especialmente o bancário, o calçadista, o de telemarketing e de pesca artesanal) e amplo estudo sobre as condições de trabalho dos carvoeiros (carvão para a produção siderúrgica baiana). O grupo de pesquisa Atenção Integral: Saúde, Trabalho e Funcionalidade tem atuado desde 2006 sobre a questão da incapacidade para o trabalho e orientado seus projetos para o estudo e desenvolvimento de tecnologia em saúde para o retorno ao trabalho, sustentado em parceira com o CESAT e com a Rede Brasileira de Pesquisa e Apoio à Implementação de Programas para Reabilitação e Prevenção da Incapacidade Laboral, liderada pela FUNDACENTRO-SP.
No Brasil, nas últimas décadas, a urbanização e a industrialização causaram profundas modificações demográficas, epidemiológicas e ambientais, sendo essas últimas responsáveis pela multiplicidade de exposições às quais a população está submetida. A crescente presença de agentes agressivos no ar, na água e no solo, assim como na alimentação, seja na forma de aditivos, pesticidas e dejetos industriais, seja através da introdução de novos hábitos de vida, agrega e/ou potencializa o risco de agravos à saúde e o surgimento de novos tipos de agravos ainda não conhecidos. O caráter concomitante da exposição ambiental e ocupacional, mediada por elementos sócio antropológicos, torna ainda mais complexo o estudo das associações e relações causais, assim como a concepção, implementação de medidas visando à minimização e/ou eliminação de riscos ambientais e ocupacionais.
Apesar dos graves problemas de Saúde Ambiental e da Saúde dos Trabalhadores existentes atualmente no Brasil e na Bahia, ainda há grande carência de profissionais, docentes e pesquisadores com formação e experiência nestas áreas. A importância da contribuição da Saúde Ambiental e do Trabalhador para a área da Saúde Coletiva é amplamente reconhecida. No CNPq e na CAPES, a área da Saúde Coletiva tem, historicamente, abrigado e incentivado a maior parte das iniciativas de pesquisas relacionadas a estas temáticas. Entretanto, a articulação destas áreas continua um grande desafio. Portanto, desenvolver pesquisas e formar pesquisadores em programas centrados nesta complexa interface contribui para o enfrentamento dos imensos desafios da Saúde Coletiva no que diz respeito à saúde ambiental e à saúde do trabalhador.
A interação com a formação de graduandos tem sido priorizada desde o início do Programa. Todos os professores ministram aulas na graduação de diferentes cursos incorporando em suas aulas experiências oriundas das pesquisas. Os docentes orientam alunos de inciação científica que são incorporados em seus grupos de pesquisa. Considera-se ainda como importantes precursores do PPGSAT, os programas de Residência em Medicina Preventiva e Social e de Medicina do Trabalho do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia (UFBA), criados em 1980 e 2004, respectivamente, dos quais muitos egressos se tornaram professores e pesquisadores nesta área do conhecimento, alguns hoje compondo o quadro de professores permanentes do PPGSAT.
O Programa mantém atualmente, 14 professores permanentes, 13 professores colaboradores e ao longo dos últimos anos recebeu 5 professores visitantes. O Programa possui docentes da área médica, engenharia, fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, estatística, odontologia, dentre outras. A diversidade de formação dos docentes tem contribuído com o desenvolvimento de projetos de pesquisa interdisciplinares necessários para os diferentes olhares sobre os problemas. O corpo docente é composto predominantemente de mulheres (64%). Dos 14 professores permanentes, 12 fizeram pós-doutorado, sendo 8 no exterior. O número de bolsistas de produtividade do CNPq aumentou, passando de 2 em 2017, para 3 em 2018. Docentes PPGSAT vêm assumindo posição de destaque na condução das políticas de pós-graduação tal como a coordenação do Forum de Coordenadores da Área de Saúde Coletiva (2016-2019) da ABRASCO.
De janeiro a dezembro de 2018 o Programa contava com 37 discentes matriculados, 11 bolsas CAPES e 4 FAPESB. Desde sua abertura, o Programa já titulou 142 mestres. Em 2017 e 2018 o Programa titulou 13 e 20 mestres, respectivamente, com prazo médio de titulação de 24 meses. Observa-se o aumento da produção do Programa em artigos entre 2017 e 2018, tanto em termos quantitativos, como em relação à qualificação da revista. O número de artigos publicados passou de 35, em 2017, para 43, em 2018. Os artigos publicados nos estratos A1, A2 e B1 passou de 18, em 2017, para 28, em 2018. A mediana global do Programa passou de 55 pontos, em 2017, para 110 pontos, em 2018. A produção per capita por DP /ano considerando apenas a produção de artigos foi de 115,8 pontos, em 2017, para 169,6 pontos, em 2018.